Igreja do Santo Sepulcro, Jerusalém.
É o “Santo Sábado”, o dia que antecede a Páscoa na igreja Ortodoxa. Uma enorme multidão se aglomera no lugar afim de ver um dos fenômenos religiosos mais incríveis do mundo. Há canais de televisão transmitindo ao vivo, para diversos países como a Geórgia, Grécia, Ucrânia, Rússia, Romênia, Bielo-Rússia, Bulgária, Chipre, Líbano e para outros países de tradição ortodoxa, como o Egito. Há um clima de tensão no ar. Todos esperam que algo inimaginável ocorra a qualquer momento. E vai ocorrer!
Um sacerdote é revistado diante das testemunhas. Ele é despido de suas roupas religiosas e entra no sepulcro. Após recitar orações especiais, quase tão antigas quanto o lugar, uma misteriosa luz azul começa a surgir do nada, sobre a pedra. Ninguém sabe o que ela é exatamente nem de onde provém. Em algumas vezes, a luz azulada misteriosa lembra uma nuvem, em outras um poderoso fogo azul que ilumina todo o santo sepulcro. Nesse misterioso fogo, o sacerdote acende algumas velas. O fogo delas parece fogo comum, mas não é capaz de queimar a pele ou cabelos durante os primeiros trinta minutos em que a chama misteriosa arde ali. A sensação geral é de um milagre. Um milagre surpreendente que vem se repetindo ano após ano, por séculos, e é documentado desde 1106, com referências esporádicas antes disso.  De fato, é considerado o milagre mais constante no mundo. Ele ocorre da mesma forma, no mesmo lugar, todos os anos ao longo dos séculos. Nenhum outro milagre é tão regular e constante ao longo do tempo. Mas… Será isso tudo mesmo?
Segundo a Wikipedia, o Fogo sagrado é apenas o clímax de uma série de atividades religiosas que o precedem.
Um dia antes, o lugar é revistado minuciosamente.
As autoridades israelenses, juntamente com as autoridades das outras Igrejas, se dirigem ao sepulcro na Sexta-Feira Santa, após o Ofício das Exéquias de Cristo, para lacrar o túmulo com cera, colocando cada grupo o seu timbre. Antes disso, porém, apagam todas as lamparinas da igreja, e entram no local do sepulcro, para verificar a existência de qualquer fonte de fogo escondida, o que tornaria o milagre uma fraude. fonte
No dia apropriado, ao meio dia, o patriarca grego ortodoxo inicia uma procissão solene e grandiosa, juntamente com os membros do clero, cantando hinos.
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As procissões
O grupo marcha três vezes em volta do Santo Sepulcro. Uma vez terminada, o patriarca ou outro arcebispo ortodoxo recita uma oração específica, remove suas roupas litúrgicas e entra sozinho no sepulcro. Antes de entrar no túmulo de Jesus, o patriarca é examinado por autoridades israelenses judaicas para provar que ele não carrega consigo nenhum meio artificial para acender o fogo.
Esta investigação costumava ser executada por soldados turcos otomanos. Os arcebispos da Igreja Apostólica Armênia permanecem na ante-câmara, onde supostamente o anjo do Senhor estava sentado quando ele apareceu para Maria Madalena após a ressurreição de Jesus.
A congregação em seguida canta o Kyrie eleison (“Senhor tenha misericórdia”) até que o Fogo Sagrado espontaneamente desça sobre as trinta e três velas brancas amarradas juntas pelo patriarca no período que ele permaneceu sozinho dentro do túmulo de Jesus. O patriarca então sai do túmulo e recita algumas orações antes de acender ou as 33 ou as 12 velas e as distribui para a congregação.
O fogo é considerado pelos fiéis como sendo a chama do poder da ressurreição e também o da sarça ardente no Monte Sinai. As pessoas acendem maços de 33 velas, pois cada uma representa um ano que Jesus viveu aqui na Terra.
Parte do mistério do Fogo sagrado é que ele é “frio” por meia hora após ser aceso.
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Parte do mistério do Fogo sagrado é que ele é “frio” por meia hora após ser aceso.
Talvez a descrição mais impressionante da cerimônia do fogo sagrado seja a atribuída ao patriarca Diodoro de Jerusalém. Ele conta a experiência transcendental:
Eu passei pela escuridão até a câmara interna e caí de joelhos. Lá, eu recitei algumas orações que nos foram passadas através dos séculos e, tendo-as dito, esperei. Algumas vezes, por alguns minutos, mas normalmente o milagre acontece imediatamente após eu ter recitado as orações. Do centro da pedra na qual Jesus esteve deitado uma luz indescritível aparece. Ela geralmente tem um tom azulado, mas a cor pode mudar e tomar diversas outros padrões. Ela não pode ser descrita em termos humanos. A luz sai da pedra como uma bruma que sobe de um lago, quase como se a pedra estivesse coberta por uma nuvem úmida, mas de luz. Esta luz se comporta de maneira diferente a cada ano. Algumas vezes, ela cobre apenas a pedra, enquanto que em outras, ela ilumina o sepulcro todo, de forma que as pessoas que estão do lado de fora do túmulo e olham para dentro deles o virão cheio de luz. A luz não queima. Eu jamais queimei a minha barba nos dezesseis anos que eu fui patriarca em Jerusalém e recebi o Fogo Sagrado. A luz é de uma consistência diferente do fogo normal que queima numa lâmpada de óleo.
A certo ponto, a luz sobe e forma uma coluna na qual o fogo é de uma natureza diferente, de tal forma que eu sou capaz de acender as minhas velas nele. Quando eu termino de receber a chama desta forma em minhas velas, eu saio e entrego o fogo primeiro para o patriarca armênio e depois para o copta. Depois, para todos os presentes na igreja
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O sacerdote divide o fogo sagrado com os demais membros das igrejas

O Fogo Santo não é apenas distribuído pelo Arcebispo, mas com base nos que acreditam neste milagre,ele também opera por si só.
O fogo é emitido a partir do Santo Sepulcro com uma tonalidade completamente diferente da luz natural. É brilhante, pisca como relâmpago, como uma pomba que voa em torno do tabernáculo do Santo Sepulcro, e acende sozinho a lamparina apagada de azeite pendurada em sua frente. O fogo gira de um lado da igreja para o outro. Ele adentra em algumas das capelas no interior da igreja, como, por exemplo, a Capela do Calvário (localizada um nível acima do Santo Sepulcro) e acende as lamparinas. Ele também acende as velas de alguns peregrinos. Na verdade, existem alguns peregrinos piedosos que, cada vez que participaram nesta cerimônia, notaram que suas velas acenderam sozinhas! Essa luz divina também apresenta algumas peculiaridades, pois parece ter uma tonalidade azulada e não queima. Por trinta e três minutos, desde sua manifestação, se o fogo sagrado tocar a face, ou a boca, ou mesmo as mãos dos peregrinos, não queima. Esta é a prova de sua origem divina e sobrenatural. E o fogo sagrado aparece apenas pela invocação de um Arcebispo Ortodoxo, e somente na Páscoa Ortodoxa.
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Esta seria a evidência do fulgor misterioso que vaga pelo ambiente
O milagre não se limita apenas ao que acontece no interior do pequeno túmulo, onde o Patriarca reza. O que pode ser ainda mais significativo, é que a luz azul surge fora do túmulo. Todos os anos, muitos fiéis alegam que esta luz milagrosa acende, sozinho, as velas que os fiéis têm em mãos. Todos na igreja esperam com velas, na esperança de que elas possam inflamar espontaneamente. As lamparinas de azeite apagadas acendem por si só diante dos olhos dos peregrinos. A chama azul é vista se movendo em diferentes lugares na Igreja. Uma série de depoimentos foram assinados por peregrinos,cujas velas foram acesas espontaneamente, atestando a validade destas ignições. A pessoa que experimenta o milagre de perto, por ter o fogo sobre a vela ou vendo a luz azul, geralmente deixa Jerusalém transformada, e para todos que assistiram a cerimônia há sempre um “antes e depois” do milagre do Fogo Sagrado em Jerusalém. fonte
Tudo leva a crer que este seja um dos fenômenos mais transformadores do mundo. Há quem acredite que testemunhar algo assim poderia transformar até o mais incrédulo ateu num crente fervoroso. Não é sempre que a gente pode ver um milagre, que tem dia e hora para acontecer e vem acontecendo, ao que parece desde o ano 870. Uma descrição detalhada do fenômeno já aparece no diário de viagem do hegúmeno russo Daniel, que esteve presente na cerimônia em 1106. Ele menciona uma incandescência azulada descendo da cúpula da edícula onde o patriarca esperava pelo Fogo Sagrado. Alguns alegam ter testemunhado essa incandescência nos tempos modernos. Ninguém sabe direito o que é, embora o volume de testemunhas do misterioso fenômeno seja grande.
Um aspecto bem interessante deste milagre é que ele parece preferir ocorrer com representantes da igreja ortodoxa. Várias vezes na História, quando sacerdotes não-ortodoxos tentavam obtê-lo, o fogo simplesmente não vinha.
Uma outra coisa muito estranha e intrigante sobre o fogo sagrado é que ele tem um dia certo para “baixar” ali no templo. E este dia parece ser tão cronologicamente certo que certa vez, quando uma mudança no calendário ocorreu, ele não obedeceu à mudança de datas. Isso se deu na virada do ano de 1969 para 1970. Nesta época, o patriarca grego ortodoxo de Jerusalém Benedito introduziu um calendário juliano revisado a pedido do Concílio Mundial das Igrejas. Este novo calendário mudou o cômputo da data deste evento. Tudo parecia bem, mas ninguém avisou “o Fogo”, hahaha. E aí, o Fogo Sagrado não apareceu no Santo Sepulcro. Claro que diante dessa clara demonstração de que “o tempo dos homens pode não ser o mesmo tempo das divindades”, a cronologia eclesiástica original foi imediatamente restaurada e Fogo Sagrado voltou a aparecer no anos seguinte e desde então.
Holy Fire O mistério do fogo sagrado   Curiosidades
A cerimonia do fogo sagrado se dá num espaço bastante apertado
Interessante é que em muitas vezes que o fogo veio, a porrada comeu feio la dentro da igreja. Nós sabemos que Israel é por si, desde sempre, um barril de pólvora religiosa sobre uma fogueira permanente. Qualquer merdinha ali é capaz de descambar para uma guerra santa.
Imagina um fogo mistico que desce dos céus para um e não para outro a merda que pode dar? Pois é!
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Com tantas pessoas  (em media 10.000 ali dentro) usando roupas inflamáveis segurando bolos de velas pegando fogo é estranho que a igreja não tenha se tornado uma grande fogueira ao longo de tantos anos.
Parece que o pior evento desse naipe ocorrido lá foi no ano de 1856. Na ocasião, James Finn assistiu peregrinos gregos lutando contra os armênios com pedras e paus escondidos previamente. O paxá teve que ser carregado para fora, com sua escolta de soldados armados antes que seus soldados voltassem para o meio da confusão e atacassem os dois lados em conflitos com as baionetas. Imagina que coisa mais linda! Em outra ocasião, ocorrida em 1834, a igreja tava mais lotada que festa de casamento de traficante com boca livre no morro!
Neste dia, deu um quiproquó ferrado lá, e mais de 400 morreram. Com o pandemônio, os guardas do Paxá puxaram suas espadas e no melhor estilo “matadores de zumbi” saíram desferindo espadadas a torto e à direito para salvar a vida do governante.
Seja como for, nos últimos anos a coisa tem sido medianamente mais civilizada. Ainda é uma aglomeração desgraçada, com gente até não caber mais, todo mundo segurando velas. O som da multidão no espaço confinado do templo é misturado a sinos e cantoria. O cheiro das velas queimando torna o ar quase irrespirável. Um feixe de luz do sol brilha através do teto, simbolizando o poder de Deus.
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O feixe luz desce dos céus
Tradicionalmente, uma lâmpada de azeite também é iluminada e transferida o mais rápido possível para a cidade de Belém.
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A chama é então levada para outras cidades e aldeias cristãs e de lá levada para comunidades ortodoxas em todo o mundo. Um religioso grego leva uma tocha acesa pelo fogo em um jato particular fretado pelo Patriarcado Grego Ortodoxo, levando a chama sagrada para os crentes na Grécia, e de lá para o Chipre. Representantes de outras igrejas voam com tochas acesas para a Rússia, Romênia e outros países da Europa Oriental, onde há muitos fiéis ortodoxos.

Fatos curiosos sobre o fogo sagrado

Um conhecido historiador muçulmano, Al Biruni, escreveu: “… um governador colocou um fio de cobre no lugar de um pavio na lamparina do Santo Sepulcro, de modo que ela não poderia acender, mas o fogo santo queimou o fio de cobre e acendeu-a.”
Esta não foi a única tentativa de desmascarar o fenômeno. Um relatório escrito pelo cronista Inglês Gautier Vinisauf descreve o que aconteceu no ano de 1.192.
“Em 1.187 os sarracenos, sob a direção do Sultão Saladino tomaram Jerusalém. O Sultão quis, então, no mesmo ano, presenciar a celebração. Gautier Vinisauf diz-nos o que aconteceu:” Em sua chegada, o fogo sagrado desceu repentinamente, e os assistentes ficaram profundamente emocionados; os sarracenos disseram que o fogo que eles viram descer fora produzido por meios fraudulentos. Saladino, querendo expor o impostor, apagou a lamparina que o fogo celeste acendera, mas, uma vez feito isso, a lamparina imediatamente reacendeu. Ele a apagou uma segunda vez, e uma terceira, mas ela reacendeu sozinha. Então, o Sultão, confundido, chorou, dizendo, em tom profético: “Sim, morrerei ou perderei Jerusalém.”

Truque?

Há quem veja no fogo sagrado um simples misticismo construído sobre um truque de mágica antigo somado com um monte de mentiras.
Adamantios Korais,  condenou o que ele considera como uma fraude religiosa em seu tratado “On the Holy Light of Jerusalem” (“Sobre a Luz de Jerusalém”).
Ele se referiu ao evento como uma “maquinação de padres fraudulentos” e à “profana” luz de Jerusalém como o “milagre dos aproveitadores“.
Em 2005, numa demonstração ao vivo na televisão grega, Michael Kalopoulos, autor e historiador, mergulhou três velas em fósforo branco. As velas espontaneamente se acenderam após aproximadamente 20 minutos por conta das propriedades do material em contato com o ar. De acordo com o site de Kalopoulos:
“ Se o fósforo for dissolvido num solvente orgânico apropriado, a auto-ignição é atrasada até o ponto que o solvente tenha se evaporado completamente. Repetidos experimentos mostraram que a ignição pode ser atrasada por meia-hora ou mais, dependendo da densidade da solução e do solvente empregado. ”
Kalopoulos também nota que as reações químicas desta natureza já eram bem conhecidas nos tempos antigos, citando Estrabão, que relatou que
“Na Babilônia, havia dois tipos de nafta, a branca e a negra. A nafta branca é a que se acende em fogo” . Segundo Kalopoulos,  o fósforo teria sido utilizado pelos magos caldeus no início do século V a.C. e pelos antigos gregos, da mesma forma que ele é utilizado hoje pelo patriarca de Jerusalém.
A opinião que o fogo sagrado é um truque barato também é compartilhada pelo cético russo Igor Dobrokhotov. O cara  analisou em profundidade as evidências em seu website, incluindo as fontes antigas,  fotos e também alguns vídeos modernos .
Ele e outros críticos, incluindo o pesquisador russo ortodoxo Nikolay Uspensky, Dr. Aleksandr Musin da Sorbonne e alguns Velhos Crentes citam trechos dos diários do bispo Porphyrius (Uspensky) (1804–1885) que afirma que o clero de Jerusalém sempre soube que o Fogo Sagrado seria fraudulento.