A Europa está a um passo da falência generalizada, e o resto do mundo virá atrás. Não é o título bombástico de um jornal de periferia, ansioso para incrementar as vendas, mas um quadro realista do que todo mundo está vendo, hoje como telespectador, amanhã como ator, ou figurante.Se alguém quisesse perguntar como tudo isso iniciou, deveria dar um longo passo atrás na história, e chegar à Inglaterra do século XVII, quando as primeiras máquinas a vapor deram impulso à nascente indústria manufatureira. Empregando homens, mulheres e crianças, enclausurados em ambientes tóxicos durante doze, catorze horas de trabalho duro, sem segurança nem garantias assistenciais de algum tipo, espremidos até a medula em troca de um punhado de moedas e muito, muito sofrimento, os primeiros capitalistas acumularam enormes riquezas e formaram a nova burguesia industrial, que em breve começou a ditar na política, elaborando leis, e sobretudo planos de financiamentos extremamente generosos… para eles, é claro.Foi ali no meio da fumaça das fábricas inglesas, que se cumpriu o “pecado original”: a utilização desenfreada de mão de obra submissa ao salário, mísero o suficiente para prostrar o orgulho de qualquer um, mas bastante para comprar pão e cebolas, a base da alimentação da nascente classe operária, desta maneira garantindo forças e energias para enfrentar o brutal ritmo de trabalho e induzir à reprodução sexual, necessária para ampliar a base da classe trabalhadora. Trezentos anos depois somos obrigados a reviver, agora sob uma égide mais moderna – a do capitalismo globalizado – o mesmo pesadelo.
O problema, é claro, é diferente: no lugar da luta pela sobrevivência, estamos hoje preocupando-nos, aparentemente, com a luta pela manutenção das benesses adquiridas – pelo menos na Europa – que está ameaçando a supremacia mundial das nações do dito “primeiro mundo”.
Eu disse aparentemente porque na realidade, o problema que hoje se espalha em solo europeu será o problema de todos os outros, amanhã. Isto porque em um mercado globalizado, como o temos hoje, todos somos necessariamente interligados. A Itália e o Brasil – os meus dois Países – nesta dança estão coladinhos, assim como a China e os Estados Unidos, a Rússia e a Inglaterra, Israel e o Irã.
A música (as notas que formam a economia do planeta) é a mesma, a orquestra (os grandes centros decisivos) também; inclusive os dançarinos – que às vezes trocam de parceiro, porém sem nunca abandonar o salão – são sempre os mesmos, aceitando e incentivando este estado de coisas, como se fosse o único possível.
Podemos dar inicio a fase terminal do sistema capitalista em 2008, quando a bolha imobiliária, gerada nos EUA, golpeou com dureza inusitada o sistema bancário mundial, que havia dado suporte (dinheiro, crédito) as malabarísticas especulações de investidores que brincavam com os valores fictícios das casas próprias dos americanos.
A conseqüente imediata crise bancária privada – americana e européia – obrigou os governos destes países a outros malabarismos financeiros, desta vez para dar suporte aos sistemas bancários nacionais, recheados de títulos imobiliários – recebidos em garantias de vultosos empréstimos – vazios, quase sem valor. O sistema financeiro internacional, porém, ao invés de se beneficiar desta fantástica esmola para ajustar as próprias contas deficitárias e oferecer crédito ao sistema produtivo, e desta maneira favorecer o crescimento econômico das populações, enrolou-se de novo em títulos de altas rendas e poucas garantias: os da dívida pública dos PIGS, os Estados mais comprometidos da Eurozona.
Mais uma vez os governos dos países do “primeiro mundo” – Alemanha e França in primis – comprometidos com o imenso volume de papéis quase sem valores emitidos por gregos, irlandeses, lusitanos, italianos e espanhóis – detidos pelos bancos nacionais – tiveram que ajudar a manter o valor destes títulos, através uma série maciça de compras organizadas e garantidas pelo BCE, o banco central da Eurozona. É desta maneira que estão atualmente operando, tentando cobrir o sol com a peneira, camuflando uma deficiência estrutural com papel de parede.
No Brasil descreveríamos este método como “empurrar com a barriga”: o problema inicial, gerado pela ganância de conhecidos grupos financeiros, foi repassado aos bancos particulares, então aos centrais, e em seguida aos governos nacionais, que o empurrou às populações locais, através de cortes de serviços e investimentos, e maiores taxações.
Infelizmente, a questão de base é muito mais séria: o crescimento da economia capitalista não pode mais acontecer. Se em 1960 a produção de bens mundiais baseava-se no desfrute da metade dos recursos naturais do planeta, em 1980 alcançamos a utilidade total destes recursos, e daí em diante foi somente um “raspa-raspa” nas riquezas naturais da Terra – não mais capaz de se reproduzir a estas velocidades – afetando seu patrimônio de matérias primas, renováveis e não. Daqui ao caos hídrico e alimentar, será um passo.
Somente uma nova política mundial, então, criada para uso inteligente destas matérias primas, e uma redistribuição das rendas nacionais, que alcançasse quem está fora do contesto dos privilegiados do “primeiro mundo” e dos “países emergentes (BRICS)”, poderá chegar a uma verdadeira solução do problema, mas este é um cenário… comunista, ou pior, absolutamente cristão, impossível de ser alcançado pelas atuais elites mundiais do capitalismo, que deveriam redistribuir recursos e riquezas com níveis de justiça e equidade que nem os mais otimistas – aqui na Terra ou dos que nos seguem nos céus – ousariam imaginar.
Obcecados pelo sonho consumidor, surdos e cegos perante os gritos de socorro de quem nada tem, indiferentes ao destino que legaremos aos nossos filhos e netos, continuaremos na obstinada procura do remédio/placebo aos males que nos assolam, até que, punidos pelos efeitos perversos provocados pelo nosso estilo de vida equivocado, cairemos de joelho de frente a uma realidade que aparecerá em toda a sua dureza: a do fim do sistema capitalista.
Não tem nada de dramático nisto. Já aconteceu na nossa história, e o mundo passou de sistema em sistema, sem desmoronar. Alguns perderam muito, muitos se beneficiaram pouco, e tudo continuou quase como antes, na lógica “genética” do forte prevalecendo sobre o fraco.
Se eu fosse, porém, entre os que estão se preparando a intervir, para efetuar uma operação assim tão complexa como a tal da “reintegração cósmica”, gostaria bastante que antes da minha chegada o injusto sistema do capitalismo viesse água abaixo. Isto, com certeza, facilitaria a compreensão profunda da minha mensagem, que preza respeito e solidariedade, entre uma população mundial receptiva porque atordoada pela queda dos valores que norteiam a nossa civilização, confusa e então necessitada de outros valores, não mais fictícios, inúteis e contraproducentes como os que prezamos hoje.
Deste ponto de vista, o desastre econômico que está se aproximando – a agonia global – é o melhor cenário para quem se propõe intervir no planeta, inclusive porquè a tabula rasa que esta situação deixará, permitirá talvez à humanidade de começar uma nova fase da nossa milenar experiência: a que se baseia no respeito, na tolerância e na solidariedade.
P.S. Talvez os anos que passam, e os neurônios que não se reciclam mais como antigamente, são os que me levam a fazer estas considerações. Mas não se preocupem porque – é sabido – eu sou só um sonhador…
Roberto Numa
O problema, é claro, é diferente: no lugar da luta pela sobrevivência, estamos hoje preocupando-nos, aparentemente, com a luta pela manutenção das benesses adquiridas – pelo menos na Europa – que está ameaçando a supremacia mundial das nações do dito “primeiro mundo”.
Eu disse aparentemente porque na realidade, o problema que hoje se espalha em solo europeu será o problema de todos os outros, amanhã. Isto porque em um mercado globalizado, como o temos hoje, todos somos necessariamente interligados. A Itália e o Brasil – os meus dois Países – nesta dança estão coladinhos, assim como a China e os Estados Unidos, a Rússia e a Inglaterra, Israel e o Irã.
A música (as notas que formam a economia do planeta) é a mesma, a orquestra (os grandes centros decisivos) também; inclusive os dançarinos – que às vezes trocam de parceiro, porém sem nunca abandonar o salão – são sempre os mesmos, aceitando e incentivando este estado de coisas, como se fosse o único possível.
Podemos dar inicio a fase terminal do sistema capitalista em 2008, quando a bolha imobiliária, gerada nos EUA, golpeou com dureza inusitada o sistema bancário mundial, que havia dado suporte (dinheiro, crédito) as malabarísticas especulações de investidores que brincavam com os valores fictícios das casas próprias dos americanos.
A conseqüente imediata crise bancária privada – americana e européia – obrigou os governos destes países a outros malabarismos financeiros, desta vez para dar suporte aos sistemas bancários nacionais, recheados de títulos imobiliários – recebidos em garantias de vultosos empréstimos – vazios, quase sem valor. O sistema financeiro internacional, porém, ao invés de se beneficiar desta fantástica esmola para ajustar as próprias contas deficitárias e oferecer crédito ao sistema produtivo, e desta maneira favorecer o crescimento econômico das populações, enrolou-se de novo em títulos de altas rendas e poucas garantias: os da dívida pública dos PIGS, os Estados mais comprometidos da Eurozona.
Mais uma vez os governos dos países do “primeiro mundo” – Alemanha e França in primis – comprometidos com o imenso volume de papéis quase sem valores emitidos por gregos, irlandeses, lusitanos, italianos e espanhóis – detidos pelos bancos nacionais – tiveram que ajudar a manter o valor destes títulos, através uma série maciça de compras organizadas e garantidas pelo BCE, o banco central da Eurozona. É desta maneira que estão atualmente operando, tentando cobrir o sol com a peneira, camuflando uma deficiência estrutural com papel de parede.
No Brasil descreveríamos este método como “empurrar com a barriga”: o problema inicial, gerado pela ganância de conhecidos grupos financeiros, foi repassado aos bancos particulares, então aos centrais, e em seguida aos governos nacionais, que o empurrou às populações locais, através de cortes de serviços e investimentos, e maiores taxações.
Infelizmente, a questão de base é muito mais séria: o crescimento da economia capitalista não pode mais acontecer. Se em 1960 a produção de bens mundiais baseava-se no desfrute da metade dos recursos naturais do planeta, em 1980 alcançamos a utilidade total destes recursos, e daí em diante foi somente um “raspa-raspa” nas riquezas naturais da Terra – não mais capaz de se reproduzir a estas velocidades – afetando seu patrimônio de matérias primas, renováveis e não. Daqui ao caos hídrico e alimentar, será um passo.
Somente uma nova política mundial, então, criada para uso inteligente destas matérias primas, e uma redistribuição das rendas nacionais, que alcançasse quem está fora do contesto dos privilegiados do “primeiro mundo” e dos “países emergentes (BRICS)”, poderá chegar a uma verdadeira solução do problema, mas este é um cenário… comunista, ou pior, absolutamente cristão, impossível de ser alcançado pelas atuais elites mundiais do capitalismo, que deveriam redistribuir recursos e riquezas com níveis de justiça e equidade que nem os mais otimistas – aqui na Terra ou dos que nos seguem nos céus – ousariam imaginar.
Obcecados pelo sonho consumidor, surdos e cegos perante os gritos de socorro de quem nada tem, indiferentes ao destino que legaremos aos nossos filhos e netos, continuaremos na obstinada procura do remédio/placebo aos males que nos assolam, até que, punidos pelos efeitos perversos provocados pelo nosso estilo de vida equivocado, cairemos de joelho de frente a uma realidade que aparecerá em toda a sua dureza: a do fim do sistema capitalista.
Não tem nada de dramático nisto. Já aconteceu na nossa história, e o mundo passou de sistema em sistema, sem desmoronar. Alguns perderam muito, muitos se beneficiaram pouco, e tudo continuou quase como antes, na lógica “genética” do forte prevalecendo sobre o fraco.
Se eu fosse, porém, entre os que estão se preparando a intervir, para efetuar uma operação assim tão complexa como a tal da “reintegração cósmica”, gostaria bastante que antes da minha chegada o injusto sistema do capitalismo viesse água abaixo. Isto, com certeza, facilitaria a compreensão profunda da minha mensagem, que preza respeito e solidariedade, entre uma população mundial receptiva porque atordoada pela queda dos valores que norteiam a nossa civilização, confusa e então necessitada de outros valores, não mais fictícios, inúteis e contraproducentes como os que prezamos hoje.
Deste ponto de vista, o desastre econômico que está se aproximando – a agonia global – é o melhor cenário para quem se propõe intervir no planeta, inclusive porquè a tabula rasa que esta situação deixará, permitirá talvez à humanidade de começar uma nova fase da nossa milenar experiência: a que se baseia no respeito, na tolerância e na solidariedade.
P.S. Talvez os anos que passam, e os neurônios que não se reciclam mais como antigamente, são os que me levam a fazer estas considerações. Mas não se preocupem porque – é sabido – eu sou só um sonhador…
Roberto Numa
Grupo Atlan Itália
Fonte : http://www.orbum.org/agonia-global
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