terça-feira, 16 de junho de 2015

Anel de Gyges – O anel que inspirou “O senhor dos Anéis”

 
O anel de Gyges é uma lenda que integra A República de Platão. Quando John Ronald Reuel Tolkien criou o  “Um Anel” em seu livro “O senhor dos Anéis” a idéia foi tirada de platão. Vamos saber mais a respeito:

O Mito

Giges era um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegando, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o, e assim se tomou o poder.

Reflexões

Essa história levanta uma indagação moral:algum homem seria capaz de resistir à tentação do mal se soubesse que seus atos não seriam testemunhados? A justiça é uma convenção a que  não nos interessa obedecer; a justiça nunca traz vantagens. Assim, os que praticam a justiça o fariam “contra a vontade”, por “incapacidade” de agir de outra maneira. Suponhamos, por hipótese, que déssemos tanto ao justo quanto ao injusto a licença para agir como desejassem, e nos entretivéssemos a observá-los: eles agirão do mesmo modo. É o que nos mostra a história de Gyges.
Quem resistiria, sem o medo de ser visto e punido, à tentação de “matar, copular com quem desejasse, tornar-se um rei entre os homens”? Quem seria suficientemente insensato para permanecer fiel a justiça, quando tivesse em suas mãos todos os poderes? Portanto, ninguém é justo e íntegro voluntariamente, mas unicamente por imposição, “medo da polícia”, timidez ou incapacidade. Ninguém escolhe a justiça; se nos abstemos da injustiça, é porque não podemos agir de outro modo. Só praticamos o bem por não podermos praticar impunemente o mal.
A moral é transparente: asseguremos ao homem a certeza da impunidade e, imediatamente, rompe-se o verniz da educação moral e da “civilização”. O homem volta à sua “verdadeira natureza”; a besta imunda está lá, pronta para ressurgir. O direito cede o lugar à força, o reinado da selva está próximo.
Você bem que gostaria de roubar aquele disco ou aquela roupa na loja… Mas um segurança está observando, ou então há um sistema de vigilância eletrônica, ou simplesmente você tem medo de ser pego, punido, condenado… Não se trata de honestidade; trata-se de cálculo. Não é moral; é precaução. O medo do policial é o contrário da virtude, ou só tem a virtude da prudência.
Imagine, ao contrário, que você tenha aquele anel que Platão evoca, o célebre anel de Gyges, que tornaria você invisível sempre que você desejasse… É um anel mágico, que um pastor encontra por acaso. Basta virar a pedra do anel para dentro da palma para se tornar totalmente invisível, e virá-la para fora para ficar novamente visível… Gyges, que antes era tido como um homem honesto, não foi capaz de resistir às tentações a que esse anel o submetia. O mito conclui que o bom e o mau, ou os assim considerados, só se distinguem pela prudência ou pela hipocrisia, em outras palavras, pela importância desigual que dão ao olhar alheio ou por sua habilidade maior ou menor para se esconder…Se ambos possuíssem o anel de Gyges, nada mais os distinguiria: “ambos tenderiam para o mesmo fim”. Isso equivale a sugerir que a moral não passa de uma ilusão, de uma mentira, de um medo maquiado de virtude. Bastaria poder ficar invisível para que toda proibição sumisse e que, para cada um, não houvesse mais que a busca do seu prazer ou do seu interesse egoístas.
Tolkien citou a criação de vários anéis por Sauron para serem dados de “presente” para as diversas raças da terra média com o único intuito de corrompê-las com o poder e ganância. Pensem também na obra “O Homem Invisível”. No livro de HG Wells o cientista acaba enloquecido por sua fórmula iniciando um verdadeiro reinado de horror.
E não será este o maior problema enfrentado por este país: a certeza de impunidade? Será que mesmo os “bons” que são eleitos não acabam se corrompendo fascinados pelo poder de fazerem o que bem entendem sem que seja punidos?
Em resumo acho que este é o maior problema: criticamos outras pessoas por atitudes que nós mesmo teríamos. Não acho que devemos criticar os corruptos e sim criticarmos o sistema de privilégios e de imunidades que eles possuem. Vamos acabar com os anéis de Gyges antes que eles nos dominem e nos controlem.

Via https://reitigre.wordpress.com/2013/01/13/anel-de-gyges-o-anel-que-inspirou-o-senhor-dos-anis/

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